22 agosto 2006

Assim caminha a humanidade...

Andava apressadamente pela rua, distraída do mundo a sua volta. Sua atenção era consumida por um turbilhão de pensamentos soltos. Sozinha, indagava e retrucava, atacava e defendia, submersa em si mesma, travando mais uma de suas batalhas tão habituais.
De repente, o olhar a esmo enxerga. Passava uma mulher, também apressada. Rosto fechado, testa franzida, encarando-a como quem reclama pela privacidade invadida.
Que horror! - pensou. Que mal acometia àquela mulher?
Prosseguiu, atônita. Remoendo ainda a reprimenda da errante. De repente, outro rosto fechado, testa franzida, encarando-a novamente como quem reclama à privacidade invadida. Reconheceu-se. Enacarava, num reflexo, sua própria face.

21 agosto 2006

Através da janela

Era uma noite boa para morrer. A temperatura havia baixado e o céu apresentava um azul suave, sem estrelas. No entanto, da sua janela o céu sempre parecia luminoso. Talvez, fosse apenas uma impressão, por causa da permanente luminosidade das metrópoles. A cidade não dormia, existiam sempre luzes acesas pela vizinhança. Ela acreditava que a cidade tinha muitos insones, assim como ela. Ou talvez as luzes ficassem acesas porque algumas pessoas temiam à escuridão. Quem sabe? As pessoas da cidade grande não compartilhavam muito dos próprios medos. Ela mesma não o fazia. Ela tinha medo do escuro. E ninguém sabia...